Deixe-me falar!
- Patricia Egerland Bueno
- 15 de mar.
- 2 min de leitura
Atualizado: 17 de mar.
Os primeiros trabalhos de Freud que se aproximam do que viria a ser a Psicanálise datam de 1893, conhecidos como “Estudos sobre a Histeria”.
Histeria foi o nome dado para a condição que afetava muitas mulheres à época e vem da palavra grega “hystéra”, que significa útero.
Assim, centenas de mulheres lotavam os hospitais com seus corpos contorcidos, cegas, mudas e sem que houvesse qualquer causa biológica, lesões ou infecções. Eram as histéricas e acreditava-se que o que as cometia estava relacionado com o sangue que corria em demasia no ventre e lhes faltava à cabeça.
Freud e Breuer utilizavam da hipnose para ‘curar’ estas mulheres - um método que tinha como objetivo o rebaixamento da consciência a fim de manipular os sintomas - à medida que nem as mais criativas invenções da medicina davam conta de eliminar os sintomas, muito menos compreendê-los.
Emmy Von N. foi uma das pacientes histéricas acompanhadas por Freud (1889) e que contribuiu para o que viria a ser a subversão do método da hipnose.
Em uma de suas sessões, Emmy Von N. insiste para que Freud pare de falar e pede: deixe-me falar. Freud escuta isso e acata: Emmy passa a falar livremente, chegando a suas lembranças traumáticas de episódios passados que contribuíram para seu adoecimento.
Freud passa, então, ao método catártico, que viria a ser junção de três práticas: a médica, ainda influenciado pela Medicina (Freud era neurologista); o hipnotismo, devido ao seu trabalho em conjunto com Breuer; e a fala, influenciado por sua paciente Emmy.
Somente alguns anos depois Freud abandona por completo a hipnose e estrutura o método próprio da Psicanálise, conhecido como “associação livre”
Emmy Von N. não foi a única a apontar a fala como ponto primordial do tratamento. Anna O., caso bastante conhecido nos estudos psicanalíticos, é quem fala de “a cura pela fala” referindo-se ao seu tratamento.
Assim, a partir da escuta dessas mulheres, Freud recoloca o sujeito em cena e acolhe o sujeito do inconsciente, revelando, para além das singularidades de cada paciente, todo um aspecto social que envolvia às mulheres àquela época (e não só), de privação e subordinação.
*Texto escrito em fevereiro de 2023 e editado em março de 2025.

Comentários